PLURIVERSOS

Revista Independente de Literatura

PERTO DA LUA CRUA





Luigi Ricciardi

Na prisão muda
Da falsa liberdade
Sob a luz dos neons
Falando de qualquer puteiro
Que vende amor por duas notas,
Algum desconhecido
Marcha descompassadamente
Acumulando alguns “nãos”
Com uma garrafa na mão
Carregando nela sua existência.
Anda a esmo
Na miséria anônima
Na tristeza embotada.
Enquanto sente a esperança
Alimentada a pão de ló,
Sente crescer ainda mais
A ruga criada todos os dias
Alimentada a banquetes.
A ruga que cresce nas vértebras
É uma romã que se abre
Já podre no seu recôndito
Cancericizando as borboletas do estômago.
É uma labareda que queima os sonhos
Cauterizando a réstia de luz
Queimando a última página
Já verde com o bolor do tempo.
É uma navalha na mente
Cortando e respingando por todo o corpo
Hemorragizando as vontades
Regurgitando os tapas na cara
É um campo minado
Escondido entre as pedras
É um motor sem graxa
Um avesso sem lado.
Mas alguns ainda brotam
Querendo ser como aqueles de Bunker Hill
Imaginando que talvez
Em alguma manhã submersa
Com a ressaca de existir
Alguma esperança tola
Ainda possa vencer a fogueira
Algum Brahma interior que possa
Recriar o sentido das coisas
Desfazer essas trindades malucas
De deuses que parecem necessários.
Daí a realidade pede pra entrar
O despertador se jubila
E o trabalho escravo
De salário mal pago exige algumas horas
Quase o dia todo
Espremido entre a loucura
E uma realidade construída.
Na verdade vos digo:
Ele só quer um amor sem sentido
Um copo sempre cheio
Uma tarde morna de sono
E uma noite que ri na cara do mundo.
E não se pode culpar o homem
De querer um beijo macio.
Mas esse alguém
Continua a despejar sua vida
Nas ruelas sem sentido do centro.
Encontra um gato preto entre as latas de lixo
E o mundo ali fica menos chato
Os animais vivem menos, mas vivem mais
Talvez nos ensinem algo algum dia
No dia que estivermos prontos pra aprender.

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