PLURIVERSOS

Revista Independente de Literatura

QUANDO FOMOS PASSEAR POR AÍ




QUANDO FOMOS PASSEAR POR AÍ
Nelson Alexandre

Eu já li Kerouac em noites de chuva
Segurando estrelas cálidas nas mãos
Obtendo bênçãos e maldições ao queimar os pulsos com Marlboro
Com pensamentos febris e desnorteados
Cheguei mesmo a me trancar em quartos sem portas nos batentes
Livre como o passarinho que será o almoço da gata
As asas voando pela imaginação alheia

Não pago pedágio para entrar no céu
Mas nunca me cobraram para perambular pelo inferno
Pelos becos dessa Maringá que nos odeia
Dessa ovulação frequente do sentimento médio
Da compreensão média
Da média mediana

Eu já li Henry Miller em tardes vagabundas pedindo colo
Mendigando um afago que não fosse sacana
Enrolando o que não deve ser enrolado
Usando a página 175 de Trópico de Capricórnio
Como base de um incendiário beijo na sua boca
Minha Mona
Minha Leda

Eu já li Hunter Thompson bebendo chá gelado
Trocando o gelo da minha boca para a sua boca
Como se isso fosse frequente sem uísque
Sem o piso salarial do meu direito autoral
Que ainda vai te reembolsar uma garrafa de Jack
Ou somente um dog na madrugada
Pra gente sair da miséria
Mas a miséria do estômago
Somos nobres vagabundos da noite de felicidade.

Eu não li os teus olhos miúdos
Mas nadarei em tuas íris
Navegarei pelo teu corpo como uma bactéria
Serei morto pelo seu sistema imunológico
Para você tatuar flores no seu ventre
Minha nova morada.

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