Aventuras e Monotonias em Os Amores Difíceis, de Ítalo Calvino
Luigi Ricciardi
A primeira vez que ouvi (ou li, já não me lembro bem) o nome de Ítalo Calvino,
nome quase indissociável da figura histórica, pensei que se tratasse justamente
daquele francês reformista religioso. Evidentemente eu estava errado. O nome
pertencia às letras modernas, diferentemente daquele, das letras
renascentistas.
É considerado um dos grandes escritores italianos do século XX. Nasceu em
Cuba e morreu em Siena. Fez também um belo trabalho teórico sobre a literatura.
Mas viemos para falar sobre um livro específico. Os Amores Difíceis (Gli Amori
Difficili em italiano) é um livro de contos e foi publicado em 1964. Teve
uma de suas histórias adaptadas ao cinema A
Aventura de um Soldado.
O livro é quase todo feito de contos que têm a palavra “Aventura” em seu
título: A Aventura de um Banhista, A Aventura de um Fotógrafo, A Aventura de um leitor etc. São Aventuras
pequenas, dentro de um cotidiano deveras limitado. Rompimento. Nem por isso
deixa de ser uma aventura. Um rompimento fugaz, um pouco antes da ordem natural
se restabelecer como era, ou quase como era antes.
Escritor de linguagem tradicional, mas de personagens contemporâneos. Tão
contemporâneos que o autor consegue, em um todo, mostrar como a vida atual é
monótona e, diferentemente das aventuras de Ulisses ou Aquiles, que uma simples
intervenção na rotina se torna aventureira.
Tais aventuras são situações intrusas na normalidade da vida dessas
personagens, vidas, grosso modo, um tanto monótonas. Tanto pode ser a história
de um leitor ávido que adora ler na praia e que tem uma aventura sexual, embora
ele prefira devorar páginas a outras coisas, bem como a história de um
passageiro de trem, que trabalha monotonamente todas as semanas em uma cidade
do interior da Itália e que viaja a madrugada de sexta para sábado para ver a
sua amada em Roma. Sua aventura é conseguir dormir no trem sem ser incomodado.
Isso mostra que qualquer intervenção na rotina dessas personagens passa a
ser aventura. Para as personagens, talvez nem tanto para o leitor. Nesse livro,
Calvino está aquém do escritor que atingiu o nível literário da trilogia O Visconde Partido ao Meio, O Barão Trepador e O Cavaleiro Inexistente. Curiosamente, há pouco havia lido outro
livro de um escritor da terra dos meus antepassados: O Marido de Minha Mulher, do aclamado Luigi Pirandello, que
escreveu obras magníficas no gênero dramático, como Seis Personagens à Procura de um Autor. São bem escritos, mas não
oferecem nada de novo à literatura, apesar de servirem como um bom passatempo,
infinitamente melhor, com certeza, do que a maioria dessas sagas caça-níqueis
que tomaram conta do mercado editorial nos últimos anos. Pelo sim ou pelo não,
a leitura é indicada.
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